quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Cura.



    Andava cabisbaixa como quem nada tinha gosto pela vida. Ainda não tinha idade o suficiente para distinguir as emoções do seu coração e sua vontade racional de fazer as coisas. Mas continuava andando reto, pensativa com a sua cara gripada de moça virgem. Pesada e ao mesmo tempo leve e pura.
    Seus olhos brilhavam como quem tem febre a elevada altura, seus dentes haviam se escondido na boca, como o urso que hiberna numa caverna. Fazia tempos que não sorria e não os mostrava seu jovem sorriso para o mundo com uma querida inspiração. Como não tinha motivos para expô-los, deixava-os ali, guardados, como uma linda carta romântica guardada aos fundos de uma velha gaveta, depois do amor acabar.
    Continuava ali, gripada para o mundo, com sua cara febril e voz preguiçosa, não queria saber se sua postura estava correta, ou se arrastava muito os pés ao andar. Falar? Só se fosse o necessário, não estava afim de pronunciar palavras ao vento sem motivo que lhe carregasse ao pico e soasse ao eco.
    Ela estava cansada do mundo e queria uma pedra para assim descansar, sentava em cantos ensolarados para ver se arranjava um calor amigo para lhe fazer companhia, ou se jogava em velhos sofás para assim continuar sua velha rotina lendo livros empoeirados.
    Ela se encantava com o vento e pequenos passarinhos. Gostava de morangos e bons livros, escutava Beatles e usava vestidos floridos.
    Ele finalmente voltara de viagem, e junto lhe trouxera a chave de um dos seus mais raros sorrisos, que há meses era guardado e esperado ser aberto dentro de sua pequena boca para motivos especiais. Ela sorriu e o mundo viu. Ela deixou que a felicidade transformasse palavras novamente. Voltou a poetizar, rir sem motivos, sentir a alma leve e criativa, ela tinha voltado a tona com a alegria de uma criança.
    Em um grito de felicidade, ela se declarou ao mundo, floriu seus olhares, seus cabelos se misturavam ao cheiro das flores, e se encantava com a beleza de seu abraço.
    Foi aí que o mundo descobriu que saudade tinha cura, e que ela guarda um dos maiores segredos de nossa existência: O reconhecimento de nosso próprio ser, e a calmaria de nossa alma com nós mesmos, quando a solidão bate a porta, e a distância se torna nossa inimiga.
    Foi aí que ela descobriu o que lhe fazia feliz, quando em um eterno abraço, ele a cobriu por inteiro, e ambos juraram nunca mais um do outro, se afastar.

    "- Isto é amor." - A vida lhe dizia.

2205859_large


Um comentário:

  1. Não há temor frente a pior TEMPESTADE; quando se encontra a quem amamos é como uma bela manhã cheia de CLARIDADE.

    ResponderExcluir