sábado, 4 de julho de 2020

O silêncio

É sobre as paredes que falam sobre a sua ausência. 
É sobre o vazio que estremece os escombros de meu peito em meio a carência.
O exato momento em que a rachadura se aprofunda e a terra cai. Me afogo nas lembranças do que não me lembro mais.
Me refiro aos versos que você escrevia e nunca mais mostrou. 
Do papel rasgado do seu esboço, da madrugada intensa da sua insônia logo que me acordou.
Sobre o vinho que não tomamos porque nunca abrimos. Sobre o Tom Jobim que junto a noite nós ouvíamos. 
Falo aqui sobre o chá quente que me preparava antes do jantar e do gosto de hortelã da sua boca ao deitar.
Das noites que observávamos a lua a toa e ao chão o cochicho da sua voz um pouco rouca. 
Seu silêncio me corrói. Onde anda sua presença?

Saudade daquilo que me consome, saudade de quem nem sei o nome.
Saudade da minha única e inexistente referência.