sábado, 20 de junho de 2015

Pitanga no Quintal

Quase todos os finais de semana, eu ia visitar os meus avós (que são meus padrinhos), depois de muito conversar ia correndo brincar naquele lindo quintal com a minha irmã! Era um quintal recheado de árvores frutíferas, balanço, escorregador e duas cachorras. Vivia brincando entre as pequenas flores, pegando pequenas pedrinhas para brincar de amarelinha, colhendo limões do jardim para fazer limonada com a avó. Meu avô sempre me levava até aquele quintal e me ensinava sempre a diferença entre os tipos de plantas. Os diferentes formatos de folhas, suas texturas e cheiros. Acho que nunca comentei isso com ele, mas o momento que mais adorava era quando ele me levava para o quintal mostrar as suas plantinhas. Todo dia aprendia algo novo com ele. 
De todo aquele quintal, a cada dia que passa, o que mais sinto falta é da pitangueira. Tinham duas. Uma de cada lado... Mas tinha a minha pitangueira favorita.
Saudades daquela linda pitangueira alta, cheia de galhos e troncos para subir. Pelo menos é assim que lembro dela, eu era pequena, e para mim ela era grande o suficiente para me acolher em seu tronco. 
Aquele cheiro de pitanga fresca e colorida é o que mais sinto falta.
O meu amor por ela era um conjunto. O cheiro, o gosto, a divisão e distância certa entre cada galho. A posição em que ela cresceu e a disposição dela para me encaixar entre seu tronco, era perfeita! Eu cabia de forma perfeita dentro dela, como se fosse um eterno abraço, uma conexão única entre mim e aquela pitangueira. Para a sua felicidade, nasceu do lado de um pé de amora.
Em certas épocas do ano, corria para o fundo do quintal de meus avós maternos e ficava lá... em cima da pitangueira! Passava horas e horas me deliciando entre pitangas e amoras, as folhas das duas árvores se misturavam, e as frutinhas conversavam de uma árvore para outra... 
Passava a tarde inteira manchando minhas mãos e roupas claras apenas saboreando aquelas pequenas frutinhas. Algumas frutinhas eram laranjas, outras vermelhas e roxas. Era uma mistura de cores lindas e gostosas. Umas mais azedas outras mais doces, era sempre uma surpresa a cada frutinha... 
Quando se aproximava do café da tarde, ia correndo pedir um pote vazio de margarina para a minha avó, depois voltava correndo para dentro de casa com o pote lotado de pequenas frutinhas para dividir com todos.
Aquela pitangueira foi a melhor parte da minha infância, conversava com os passarinhos, cheirava as folhas das árvores ao redor, pegava nos insetos, via o caule verde, os cascos quebradiços, jogava aviões de papel lá de cima, levava corda para brincar de escalada, e muitas vezes levava minhas bonecas para conhecerem a vista de cima. Subir na árvore era o meu melhor esporte. 
Mas a minha vontade mesmo, era ter montado uma casa naquela pequena árvore. Sempre pensava: "Acho que aqui só cabe uma cama, mas se pudesse ficaria aqui com esta cama mesmo assim". 
Se pudesse, na verdade, moraria naquela pitangueira. Minhas melhores ideias apareciam por lá, seu cheiro e suas frutinhas me inspiravam, me davam ideias, escrevia histórias, inventava canções, desenhava entre os galhos. 

Mas infelizmente um dia tive que me despedir daquela linda pitangueira. Meus avós haviam se mudado, e a casa de madeira infelizmente fora demolida. Juntaram então os dois terrenos vizinhos, demoliram todas as lindas árvores frutíferas e construíram um grande prédio em seu lugar. Acho que veio daí o meu desinteresse por prédios e muito concreto. O verde sumiu daquele lindo lugar.
Logo depois que entrei na faculdade, pedi para que um amigo estacionasse o carro na frente daquele local. Senti falta de tudo aquilo, da minha infância, da minha avó, da pitangueira... 
Certas coisas aprendemos com a vida.E foi ali que aprendi que assim como as frutas, as pessoas amadurecem e seguem suas vidas.

  E que assim como todas as árvores frutíferas, precisamos dividir nossos frutos e muitas vezes ceder nossos galhos para que as pessoas possam crescer conosco e aproveitar o lado doce e trazer mais vida a nossos dias.

E depois de anos, resolvi criar o Pitanga no Quintal, um evento para que as pessoas possam desfrutar o sentimento parecido daquilo que vivi na infância. Um quintal animado, com música, amor, união entre amigos e família, com muita coisa boa para comer e muitas ideias para somar.
Quee o amor, amigos e natureza estejam sempre presentes em nossas vidas! 

O que compensa desse esforço, não é o lucro. E sim uma realização pessoal... dividir amor e alegria através da arte. 

domingo, 7 de junho de 2015

Me encontrei nessas linhas


Após a turbulência, voe!

Ao retornar bruscamente ao passado, refiz todos os caminhos, segui entre as mesmas pessoas, as mesmas conexões e tentativas. 
Senti o mesmo aroma três vezes, fui nos lugares mais marcantes. Minha juventude se despedia de mim naquele momento. Não precisou de muito para mostrar a mim mesma que havia amadurecido o suficiente para seguir em frente, não precisaria mais das pedras passadas e pesadas. Encarei de frente todos eles, tirei o rancor, mágoas e fechei feridas. Perdoei todos mentalmente. E eles me aceitaram com paz de espírito indiretamente... A energia voltou a fluir bem, voltou a ficar branca.
A vida é feita de pequenos trampolins que nos levam ao topo, e cabe a nos decidir qual deles pular e recomeçar uma nova subida.
Confesso que já pulei em vários e me machuquei em muitos. Mas não me arrependo de ter tentado subir em diferentes corações, pois todos me fizeram ver que a trajetória daquela escalada e o estímulo era e sempre será melhor do que o pulo. 
Estou finalmente em paz comigo mesma, com o meu coração e espírito. Mudei o rumo, o cabelo, o quarto, os objetivos de vida. Joguei fora o que não me pertencia mais, e lembranças que não me completavam também.
Estou renovada para recomeçar, para colocar toda a energia instalada no peito e recomeçar uma nova página. Uma página feita de amor próprio, muito suor, trabalho e estudo.
Uma nova "eu" que propõe desenhar todos os desafios possíveis na mente, e botá-los em prática com os olhos vendados. O limite não tem olhos, a determinação dita os passos por si mesma. 
Não tenho medo do escuro, o meu amor próprio e os meus sonhos sempre deixaram pisos firmes para se pisar. 
Meu caminho está trilhado para futuros e bons desafios que não me nego a tentar, ninguém tem o direito de me parar. Não é agora que estou diante deles que vou voltar atrás.
Pela primeira vez, meu coração está em paz. Aceitei a mudança e o amadurecimento. Finalmente a turbulência dolorosa de minha vida havia acabado, pois toda transição é repentina, dolorida e difícil. É fundamental darmos importância para os que ficam conosco nos piores momentos, pois estes sim valem a pena mantermos quando o sol aparecer. De resto, enterre com flores afetuosas na esperança de que suas vidas possam ser contaminadas de ternura em algum parte de suas vidas e tenham compaixão com futuros.
Me despedi com um beijo caloroso de minha adolescência, e abracei com afeto minha juventude com ar de trabalho árduo. Estou pronta para as mudanças... a turbulência passou, já estou pronta para voar!