sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

"Deixe-me ir, preciso andar"

Liberta-me desse respiro ansioso, 
das inquietações desesperadoras do silêncio insistente.
Livra-me das inseguranças que amarram meus andares, 
os mesmos que entrelaçam as memórias das escadarias do peito.
Receba-me de mãos quentes e firmes, me segura e olha um pouco mais profundo e percebe-me como uma alma leve porém perdida neste momento.
Descalça-me no meio da rua, e deixa-me livre pra sentir as pedras até calejarem meus pés para que eu me sinta mais viva para prosseguir viagem.

Preciso sentir-me próxima daquilo que reverbera dentro de mim.
Os pedregulhos do peito enchem-me de incertezas sobre os trajetos que ainda não alcancei. Observo-me aflita diante o longo caminho, ao perceber que a inconstância das expressões da sua face me desestabilizam na segurança do seu sentir. 
Como um liquidificador velho, rebato entre as paredes de plástico pedras de gelo, que perigosamente se batem entre si até migalhar-se entre mínimos pedaços derretidos. E neste momento, sinto-me derretendo aos poucos diante da fragilidade das ações.

Sou da guerra perdida que anda no meio do campo ainda minado, da bexiga esquecida no céu que soltou-se de um pequeno descuido dos balões do parque.
Sou aquela que sentou-se na ponta das escadas esperando você voltar. A que sentou em cima da privada até esperar todos irem embora. 

Reconheço-me como a sonhadora de papel. A moça dos escritos perdidos e silenciosos. Dona das linhas nunca lidas e jamais interpretadas. Dos versos inéditos vindos do peito de uma necessidade de expressão.
A atriz envergonhada, que expressa-se em versos tortos e mal escritos. Sem revisões ou segundas leituras. Escrevo por sentir a liberdade entre os momentos da correria e de pura exaustão. 
Sou movida a linhas salvadoras de minha própria inquietude. E ao sentir-me perdida, me reencontro nas linhas como forma de explanar meus sentimentos. Assim posso verbalizá-los e entende-los.

Deixa-me ir.
Deixa-me aquietar.
Deixa-me ficar entre os cantos na quietude do respiro.

Deixa-me.