segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

A arte do eterno frescor.

O cansaço do peito morno se estica entre o triste choro familiar.
Estufa-se a insegurança longe da sala de estar, calcula-se a hora de ir e a hora de voltar.
Esta menina não sabe a hora de embarcar.
Ela senta com seu vestido passado, entre pernas depiladas e cabelos perfumados, insinua sua inteligência entre abismos mentais, frios e calculados.
Cansou de esperar e enjoa-se de tentar sempre algo a mais. Sua incoerência busca apenas aquilo que no momento lhe satisfaz.
Esta pequena não sabe esperar.
Sua ânsia de necessidade de suprir regalias, a torna imune de sentimentos perdidos e grandes euforias.
Ela respira o mais fundo possível e resgata sua essência, percebendo mais uma de suas discordâncias entre as tais grandes demências.
O mundo dela se dissolve no adeus, e assim se intensifica no fundo dos olhos meus.
Esta guria ao se apaixonar, entra no barco sem voltar. 
Quando sente que algo está prestes a desmoronar, ela se isola por alguns segundos, entra no lado do peito mais escuro e recolhe aquela solidão de amor próprio longe de acabar.
Quebra seu barco e se deixa afundar.
Soa como canto silencioso, uma meditação em profunda harmonia, canta um mantra com sua própria alegria, e desata o nó do isolamento angustioso junto ao colo da menina.
Ela se cala, se perturba e sai como se o desconhecido virasse a página e nada a segura mais.
Ela se distrai nos próprios versos e inventa desculpas para possíveis amores.
"Não quero mais amar, amar é utopia de escritores". 
Esta menina não sabe manter o amor. Ela cultiva flores em um grande cativeiro, mata o próprio jardineiro (prisioneiro) e ainda quer sair isenta da dor.
Esta menina, não conhece o amor.
O sangue que carrega ali dentro, é o que mantém vivo o seu frescor.
Por não confiar mais nos homens, ela se satisfaz quando se supera da dor.
Maldito seja aquela que inventou o relacionamento sem ardor.
Ela vive um eterno jogo, jogo que rima com louvor.
Deixa a menina em paz, por favor!  Pois ela sabe fazer da arte, o seu eterno amor. 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Metal disfarçado de seda

Sufocante o ar preso ao peito, como um pedido de socorro, deitou-me entre pedras cobertas de suor. Havia uma semana em que dormir se tornou algo luxuoso e comida era algo que não sabia mais degustar.
Foi a semana mais longa de minha vida, uma ampulheta quebrada com areia grossa que demorava a descer entre curtos caminhos mortais.
Senti-me forte o suficiente para desafiar meu desespero e minha própria corrida. Fui inimiga de meus próprios punhos, sugando-me para poder caminhar e realizar um trabalho bem feito.
Não fui feita para acorrentar-me no desespero, mas era entre a pressão que sentia prazer quase sendo masoquista.
Era uma criança presa a minha própria capacidade de ser. Eu era uma prisioneira de minhas ações e qualidades.
Engoli meu desespero e foquei-me no automático. Nunca me senti tão fria e sem emoções quanto na semana passada.
Não fui feita de açúcar, pensei. Fui feita do metal mais pesado, capaz de aguentar dias de porrada ácida no estômago. Meu refluxo me fazia perder o contato da vida, do gosto e da esperança. 
Foi a semana mais longa deste vinte e um anos de vida. Senti-me fraca e ao mesmo tempo forte o suficiente para cumprir o que o relógio me mandava. 
Viajei, me apresentei, estudei, li e reli, escrevi e apaguei. Entre apresentações de palco e textos escritos, cumpri meu papel durante a semana inteira. Dediquei-me apenas um dia para a facada final.
Sou feita de um metal disfarçado de seda.
Se detalhar a trajetória, poucos iriam acreditar na capacidade de ultrapassar os limites.
"Achei que tinha perdido de W.O" ouvi. Mas não, estava lá, suada, cansada, com apenas segundos de esperança, atrasada, correndo e com cara de pânico, dando o meu máximo em apenas 14 minutos, pouco me importando das informações faltantes. "Estou aqui dando o meu máximo" - pensava.
Cumpri o meu dever como guerreira, cabe a eles decidirem o valor da batalha final.

"Aprovada"

Chorei cansaço no meio do sorriso da vitória. Estava por fim, formada e com a semana completa.
Foi a semana que provei a mim mesma, que sim, sou capaz de mais do que meu próprio limite. Sou feita de ferro com o coração de manteiga.

Dormi dois dias seguidos.