quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

persisto.

Insisto.
Como num tiro no escuro, há o som na imensidão. Porém não sou capaz de ver a força do impacto sobre a outra vida.
Insisto.
Respiro fundo, me escondo, choro nos escombros empoeirados das paredes quebradas, e tento me reerguer sob a mureta.
Insisto novamente.
Toco a campainha do peito, procuro sem saber exatamente o nome daquele sentimento, revisto um manto pedindo paz e abaixo a arma que me tirou o fôlego de tantos anos.
Resisto.
Tiro a máscara e dou tapa a cara na rua, lavo meus olhos com o suor de meu trabalho, descanso um pouco sob a sombra das árvores de grossos troncos. Deixo amontoar minhas dúvidas e me aquieto com minhas confissões.
Persisto. 
Recomeço de onde parei, volto quadras atrás onde larguei minhas coisas, refaço o longo caminho que percorri e busco um atalho para seguir. Tento eliminar as coisas óbvias do caminho e passo a dedicar o meu olhar sobre aqueles brotos novos que surgiram no jardim.
Implico.
Sofro de saudade do ar que antes era mais limpo, talvez não tão limpo, mas sim uma pureza ingênua de pura ignorância. Sempre foi complicado, sempre sentimos dores ao andar sob as pedras. Mas chega um momento que nossos pés engrossarão de tal modo que não sentiremos mais os cacos do que restou ao chão. Peço gentilmente que me escute, meu coração é nada mais do que um pedaço de lembranças solitárias, uma empatia carinhosa com aqueles que bem quero, mas ao mesmo tempo um montante de traumas não resolvidos.
Desisto.
As vezes me jogo no travesseiro com a esperança de dias melhores, arrisco com palavras soltas de velhas lembranças, me viro na cama, penso num mundo inteiro de possibilidades e acordo por volta das 16h, com a vontade de dormir mais cedo no próximo dia. Tem dias que desisto de mim mesma. 
Arrisco.
Tento ser otimista, no pior dos momentos. Quero arriscar novos caminhos longe do caminho já percorrido. Insisto, persisto, implico, arrisco. E só realmente desisto quando algo muito maior está por vir.
Mas sei que só desistirei quando a morte chamar, caso contrário continuo insistindo e arriscando.
Volto para o campo de batalha com mais munição, mais feridas, mais curativos e sangue espalhado no rosto. Limpo minha cara com o suor e dedico o meu sorriso dos ausentes para as pequenas vitórias de cada batalha.
Persisto.