quarta-feira, 29 de julho de 2015

Péssimo morador solitário

Não ouso comentar da minha cama bagunçada após ela se despir, deixo-a livre para entender o tempo de minhas ideias enquanto ela se ajeita na cama. A distância do travesseiro e o peso de meu sono brotam como a dúvida no peito.
Seu corpo frio e magro revelam uma suposta insegurança sobre a vida, deito-me ao seu lado e observo nosso silêncio enquanto ela se aquece neste lençol elétrico. Não sirvo para arrumar minhas coisas de forma organizada, então prefiro me acostumar com mudanças pequenas para que a ordem caminhe sozinha, no seu devido rumo, na sua devida hora e prioridade.
Olho para a janela sem cortina, a procura de um assunto para desviar do silêncio. Nada responde, nada vem a mente.
Levanto-me e vou ao banheiro, ela volta a suspirar e vira-se de lado, passa bem, eu acho... Afinal, não sei se devo me preocupar com estes detalhes! 
Ao voltar para a cama, ela me beija e passa lentamente as unhas em minhas costas, ficamos assim por mais um tempo até meus pais chegarem em casa. 
Meus pais! Voltaram da casa de meu tio e vieram conferir se estava bem... Já ela: escondeu-se entre o cobertor como se estivesse infringindo alguma lei. Insegurança - pensei -  e disse que estava tudo bem, estavam acostumados a receber meninas desconhecidas em casa, presentes no meu quarto. Até porque não sei o que se passa na cabeça dela, não temos nada sério mesmo, não tem com o que se preocupar...
Ficamos abraçados por um tempo não questionável. Talvez estivéssemos buscando alguma coisa, olhando para o teto ou ela para uma parte de minha barba a procura de algo sem resposta, talvez nem estivesse pensando em nada.
Estávamos ali, lado a lado, tão perto e ao mesmo tempo tão longe.
Ela comentou sobre ir ao banheiro. Pensei logo nas cuecas molhadas então preferi confessar antes que deixei-as secando em cima do box, para que ela entendesse que não tenho preguiça, é o frio que não as seca, não tenho culpa quanto a isso. Foi então que foi a vez dela se levantar e ir em direção ao banheiro.
O que ela não sabe, é que a vi se olhando no espelho logo que entrou. Suspirava com um ar de preocupada, ao mesmo tempo ansiosa, se olhando fixamente como se estivesse conversando consigo mesma. Ela é sentimental demais as vezes é melhor nem perguntar... Mas isso ela soube disfarçar bem, pelo menos demonstrou interesse momentâneo, mas não passamos do limite, isso me frustrou um pouco, pois demonstrava segura de si até então.
Enquanto estava no banheiro, olhei meu quarto ao redor, era simples, prático e suficiente, poderia muito bem sobreviver nele sozinho. 
Parei para pensar que na verdade não faz sentido sair daquela casa, sendo que posso me virar muito bem dentro daquele quarto. O problema de fato é quando saio para fora dele... Esses dias nem ao menos lembrei de dar ração aos cães, pois é meu pai que os alimenta logo cedo. Pensando bem, tomar o café da manhã com minha mãe costuma ser algo muito agradável! Coisa que se eu morasse sozinho talvez não fosse tão frequente. Está bom como está... Não sei o que me incomoda mais, estar solitário neste quarto fechado, ou ser um péssimo colega de quarto ou até mesmo ser minha única companhia em um apê fechado. 
Opa! Ela voltou.
Sinceramente não sei o que me trava, em que ponto é o limite disso tudo, creio que ela também não sabe. 
Seus olhos falam, mas eu não consigo entender. Talvez eu deva confiar mais neles. Ou deva falar mais a ela.
Nos abraçamos e nos entendemos no silêncio. 
Ela apenas se levantou, pegou um táxi e foi embora.
E eu? Fiquei ali no silêncio do meu quarto. Descobri que além de ser um péssimo morador, percebi que continuo sempre solitário preenchido com o vazio do peito.