segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

A arte do eterno frescor.

O cansaço do peito morno se estica entre o triste choro familiar.
Estufa-se a insegurança longe da sala de estar, calcula-se a hora de ir e a hora de voltar.
Esta menina não sabe a hora de embarcar.
Ela senta com seu vestido passado, entre pernas depiladas e cabelos perfumados, insinua sua inteligência entre abismos mentais, frios e calculados.
Cansou de esperar e enjoa-se de tentar sempre algo a mais. Sua incoerência busca apenas aquilo que no momento lhe satisfaz.
Esta pequena não sabe esperar.
Sua ânsia de necessidade de suprir regalias, a torna imune de sentimentos perdidos e grandes euforias.
Ela respira o mais fundo possível e resgata sua essência, percebendo mais uma de suas discordâncias entre as tais grandes demências.
O mundo dela se dissolve no adeus, e assim se intensifica no fundo dos olhos meus.
Esta guria ao se apaixonar, entra no barco sem voltar. 
Quando sente que algo está prestes a desmoronar, ela se isola por alguns segundos, entra no lado do peito mais escuro e recolhe aquela solidão de amor próprio longe de acabar.
Quebra seu barco e se deixa afundar.
Soa como canto silencioso, uma meditação em profunda harmonia, canta um mantra com sua própria alegria, e desata o nó do isolamento angustioso junto ao colo da menina.
Ela se cala, se perturba e sai como se o desconhecido virasse a página e nada a segura mais.
Ela se distrai nos próprios versos e inventa desculpas para possíveis amores.
"Não quero mais amar, amar é utopia de escritores". 
Esta menina não sabe manter o amor. Ela cultiva flores em um grande cativeiro, mata o próprio jardineiro (prisioneiro) e ainda quer sair isenta da dor.
Esta menina, não conhece o amor.
O sangue que carrega ali dentro, é o que mantém vivo o seu frescor.
Por não confiar mais nos homens, ela se satisfaz quando se supera da dor.
Maldito seja aquela que inventou o relacionamento sem ardor.
Ela vive um eterno jogo, jogo que rima com louvor.
Deixa a menina em paz, por favor!  Pois ela sabe fazer da arte, o seu eterno amor. 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Metal disfarçado de seda

Sufocante o ar preso ao peito, como um pedido de socorro, deitou-me entre pedras cobertas de suor. Havia uma semana em que dormir se tornou algo luxuoso e comida era algo que não sabia mais degustar.
Foi a semana mais longa de minha vida, uma ampulheta quebrada com areia grossa que demorava a descer entre curtos caminhos mortais.
Senti-me forte o suficiente para desafiar meu desespero e minha própria corrida. Fui inimiga de meus próprios punhos, sugando-me para poder caminhar e realizar um trabalho bem feito.
Não fui feita para acorrentar-me no desespero, mas era entre a pressão que sentia prazer quase sendo masoquista.
Era uma criança presa a minha própria capacidade de ser. Eu era uma prisioneira de minhas ações e qualidades.
Engoli meu desespero e foquei-me no automático. Nunca me senti tão fria e sem emoções quanto na semana passada.
Não fui feita de açúcar, pensei. Fui feita do metal mais pesado, capaz de aguentar dias de porrada ácida no estômago. Meu refluxo me fazia perder o contato da vida, do gosto e da esperança. 
Foi a semana mais longa deste vinte e um anos de vida. Senti-me fraca e ao mesmo tempo forte o suficiente para cumprir o que o relógio me mandava. 
Viajei, me apresentei, estudei, li e reli, escrevi e apaguei. Entre apresentações de palco e textos escritos, cumpri meu papel durante a semana inteira. Dediquei-me apenas um dia para a facada final.
Sou feita de um metal disfarçado de seda.
Se detalhar a trajetória, poucos iriam acreditar na capacidade de ultrapassar os limites.
"Achei que tinha perdido de W.O" ouvi. Mas não, estava lá, suada, cansada, com apenas segundos de esperança, atrasada, correndo e com cara de pânico, dando o meu máximo em apenas 14 minutos, pouco me importando das informações faltantes. "Estou aqui dando o meu máximo" - pensava.
Cumpri o meu dever como guerreira, cabe a eles decidirem o valor da batalha final.

"Aprovada"

Chorei cansaço no meio do sorriso da vitória. Estava por fim, formada e com a semana completa.
Foi a semana que provei a mim mesma, que sim, sou capaz de mais do que meu próprio limite. Sou feita de ferro com o coração de manteiga.

Dormi dois dias seguidos.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

batom borrado

Desanda no salto com o batom borrado.
Veste no peito a vergonha que te falta na cara.
O vestido que balanceia entre tuas pernas destrói o teu ponto másculo aos olhares tendenciosos. 
Chove mulher. Chove por entre teu rosto que te entope de acidez.
Chove enquanto há tempo para chover. Fique nua, embriagada, sambe entre os prantos dos teus dias mais escuros. Cante até a rouquidão te matar de desgosto. Zombe do travesseiro encharcado de mágoas póstumas.
Desanda que teu pranto me mata de vontade. Quero gozar-te de energia para que poupe-me do silêncio no coito.
Segura a onda de menina e revela logo esse teu ser incansável, que sobe paredes e destrói muros de barbantes.
Seja só tua, mulher! 
Rebole entre tuas paredes, desande entre teu peito, encha tua camisola preta de penugens de sonhos brancos.
Você cresce, mulher! Enquanto a vida não para.

Veste este casaco que agora está frio. Sei que o vento gelado assombra teu peito vazio.
Bota logo esse batom e deita aqui comigo. 
Segura minha barba pela última vez e aproveita da minha cama e faz o teu abrigo.   
Sou o teu presente indefinido. 

domingo, 27 de setembro de 2015

silenciosamente preparada

Está cada dia mais claro pra mim, que o tempo está se encurtando. Preciso finalizar da melhor forma todas as pendências e possibilidades previstas ainda para este ano.
Silenciosamente estou juntando os pedaços, encurtando caminhos e fazendo atalhos reservas. Estou adubando o espaço com as minhas histórias para que a luta continue mesmo que sem a minha presença física. E nesta forma silenciosa arrumo as peças sem deixar vestígios nostálgicos, para que o voo seja livre e silencioso. 
Minha cabeça ferve na emoção e adrenalina de que o tempo corre e as possibilidades são demasiadas para uma só pessoa, mas sigo em frente crente que uma das ideias há de funcionar. Ultimamente não estou conseguindo sentir a pressa do adeus. Estou sem tempo para saudosos momentos.
Silenciosamente estou coletando meus capítulos e preparando um ainda maior. Um espaço pronto e limpo para uma mudança radicalmente estabelecida e aprovada.
Finalmente começo a perceber qual é a minha necessidade deste mundo, minha forma de diálogo, visão e presença.
Estou me entendendo conforme as experiências anteriores e minhas possíveis aplicações em campos menores. 
Cortei-me muito dos excessos e os poucos que tive foram certeiros para que me fizessem parar de vez.
Mas no fim, descobri que sou intensa em cada passo pensado e dado. Não posso mudar e não há porque parar agora, o tempo voa. É impossível que eu viva sem meus impulsos diários que abrem possibilidades todos os dias em minha vida. 
Descobri que são estes mesmos impulsos inconstantes e diferentes todos os dias são os que me dão energia o suficiente para superar o vazio que fica na madrugada.
Me forço a funcionar ou me desligo do mundo.

Sinto cada dia que passa que o tempo está curto, e a crise de ansiedade me força a tomar decisões precipitadas mesmo não as querendo. Me forço a mudar a rota, engolir a seco, prender a respiração e desviar o olhar bruscamente. 
Estarei presa nessa bomba relógio por três consecutivos meses.
E essa bomba vai explodir, e sei que quando isso acontecer reinará a liberdade de forma pacífica e sem remorsos.

Sinto que finalmente estou pronta para me atirar ao desconhecido, ao fechar os olhos no pulo, ao pular do vagão cheio para um campo neutro. Zerado. Onde começarei uma história novamente.
Minha bagagem está completamente cheia de informações e memórias. Tudo dividido em seções, tempo, qualidade de informação, desgaste emocional e mental. O que vale para mim agora é a intensidade em que tudo isso foi vivido. Só assim equilibrarei meu estilo de vida.

Estou a alguns passos da maior loucura da minha vida.
Estou a exatamente 3 meses da mudança eterna.
O tempo corre, e até lá tenho muita coisa a ser resolvida para dar o pulo certo, e o final bem resolvido.

Estou preparando-me espiritualmente para o fim de mais um capítulo.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Mudando as placas

Não vou me curar deste tipo de ressaca tão facilmente. Estou juntando os copos e continuo competindo para quem sobrevive mais tempo, esta sensação torna-se viciante. Aliás, estou brindando cada momento insano. Fecho os olhos fortemente e vejo-me rindo! Rindo da vida! 
Mal percebo, mas quando me dou conta estou dançando na rua, no meu quarto ou dentro do ônibus. Não ando ligando para mais nada ultimamente, descobri que a opinião alheia só serve para azucrinar mentes fracas. Não ando ligando nem pra velha vizinha do olhar torto ou do padeiro que espia de canto. Estou praticando pequenos passos para ser feliz sem ter vergonha. Me vejo debochando do pessimismo alheio e confessando aos outros de que estou amadurecendo nos meus momentos mais íntimos, comigo mesma. 
Comecei tingindo meu cabelo de rosa, frequentando a nova cervejaria do lado de casa, aderindo a novas amizades, favoritei outros bares, mudei o tema de minhas conversas e desviei o foco dos meus sentimentos. Meus objetivos de vida nunca ficaram tão claros como estão agora.
Aprendi a gostar de me divertir sem preocupação, de sentir o sabor do perigo, do horário ultrapassado, de cozinhar para os amigos e de não temer o telefone. Aprendi a gostar daquilo que eu evitava e desconhecia até então. Inclusive, aprendi a perdoar muito e muitos, como também aprendi a dar desfechos a coisas pendentes.
Ando com preguiça de gente que me puxa para baixo. Preguiça de olhares tortos de inveja e pessimismo, daquele tipo de olhar que possui uma carga negativa tão forte que chega a dar náuseas. Chega uma hora que simplesmente cansamos de segurar o peso alheio a troca de nada. Então que deixe ir, deixe que vão com seus pesos tortos e vazios.
Se não lhe acrescenta, desapegue. Desapegue antes que crie um vínculo doentio e comece a sentir pena da pessoa, isso adoece qualquer ser vivo...eu garanto!
Estou viciada em novidades, em adrenalina, e no silêncio. Estou adorando administrar meu próprio tempo, me dar uma folga e passear todo domingo com a cachorra no parque.
Estou aprendendo a viver uma vida em paz finalmente. Acho que essa tensão de último ano da faculdade está sendo aliviada pela minha própria brecha de ser feliz. 
Não sei exatamente o que ou qual o motivo disso tudo. Só sei que estou numa nova fase e a cada dia que passa... mais isso fica visível e sensato para mim
  

terça-feira, 25 de agosto de 2015

O sopro do peito cego

Pela primeira vez, sentia-me breve e objetiva quanto as minhas vontades. Comecei a ser diretamente ligada a elas e exata em minhas decisões. Via-me mais madura para questionar o que o sangue dizia no momento da confusão. 
Nasci pronta para que o coração voasse pela boca e sossegasse em peito alheio, mas descobri que sou mais do que uma avalanche de emoções, eu era minha dentro do meu próprio abismo.
Me abdiquei de um desafio que estava prestes a conseguir, uma imunidade perante a curva, uma regalia no meio da pobreza. Estava me soltando daquilo que cuidadosamente estava me enlouquecendo no conforto. 
Descobri que sou louca para enlouquecer. Sim, estava pronta para me jogar de braços abertos e se necessário voar de cabeça em algo que desconhecia.
Estava prestes a me iludir novamente com o sopro do peito cego quando o próprio peito tirou-me da zona de conforto. No dia seguinte, me vi jogada na cama sem lembrar do que havia acontecido. Eu estava sóbria e confidenciando minhas metas e sonhos, calculando detalhadamente o erro em que cometi ao prender-me em vara fraca e onde o que parecia prioridade se tornou apenas mais uma opção. 
Perdi o chão para poder voar e foi a melhor queda até agora, garanto. 
Quando percebi, estava degustando diferentes bebidas, rodeada de novas companhias e separando tempo para cuidar da beleza. Sem julgamentos, competições ou demonstrações, eu era minha no meu próprio tempo. 
Comecei a valorizar minha beleza, minha inteligência, independência e maturidade. Depois de anos assumi meu próprio controle e quando me vi, a felicidade estava ao meu lado. Estava totalmente independente e feliz.
O sopro no peito cego, me fez ver o quanto a vida é rara em meio aos pequenos tropeços e soluços. Sim, a vida é um soluço que quando percebemos, já sumiu em apenas um susto. 
A vida é um susto no soluço no meio do peito cego. 
E o meu soluço mal começou. Talvez porque o peito estava cego de tanto tentar ver.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Péssimo morador solitário

Não ouso comentar da minha cama bagunçada após ela se despir, deixo-a livre para entender o tempo de minhas ideias enquanto ela se ajeita na cama. A distância do travesseiro e o peso de meu sono brotam como a dúvida no peito.
Seu corpo frio e magro revelam uma suposta insegurança sobre a vida, deito-me ao seu lado e observo nosso silêncio enquanto ela se aquece neste lençol elétrico. Não sirvo para arrumar minhas coisas de forma organizada, então prefiro me acostumar com mudanças pequenas para que a ordem caminhe sozinha, no seu devido rumo, na sua devida hora e prioridade.
Olho para a janela sem cortina, a procura de um assunto para desviar do silêncio. Nada responde, nada vem a mente.
Levanto-me e vou ao banheiro, ela volta a suspirar e vira-se de lado, passa bem, eu acho... Afinal, não sei se devo me preocupar com estes detalhes! 
Ao voltar para a cama, ela me beija e passa lentamente as unhas em minhas costas, ficamos assim por mais um tempo até meus pais chegarem em casa. 
Meus pais! Voltaram da casa de meu tio e vieram conferir se estava bem... Já ela: escondeu-se entre o cobertor como se estivesse infringindo alguma lei. Insegurança - pensei -  e disse que estava tudo bem, estavam acostumados a receber meninas desconhecidas em casa, presentes no meu quarto. Até porque não sei o que se passa na cabeça dela, não temos nada sério mesmo, não tem com o que se preocupar...
Ficamos abraçados por um tempo não questionável. Talvez estivéssemos buscando alguma coisa, olhando para o teto ou ela para uma parte de minha barba a procura de algo sem resposta, talvez nem estivesse pensando em nada.
Estávamos ali, lado a lado, tão perto e ao mesmo tempo tão longe.
Ela comentou sobre ir ao banheiro. Pensei logo nas cuecas molhadas então preferi confessar antes que deixei-as secando em cima do box, para que ela entendesse que não tenho preguiça, é o frio que não as seca, não tenho culpa quanto a isso. Foi então que foi a vez dela se levantar e ir em direção ao banheiro.
O que ela não sabe, é que a vi se olhando no espelho logo que entrou. Suspirava com um ar de preocupada, ao mesmo tempo ansiosa, se olhando fixamente como se estivesse conversando consigo mesma. Ela é sentimental demais as vezes é melhor nem perguntar... Mas isso ela soube disfarçar bem, pelo menos demonstrou interesse momentâneo, mas não passamos do limite, isso me frustrou um pouco, pois demonstrava segura de si até então.
Enquanto estava no banheiro, olhei meu quarto ao redor, era simples, prático e suficiente, poderia muito bem sobreviver nele sozinho. 
Parei para pensar que na verdade não faz sentido sair daquela casa, sendo que posso me virar muito bem dentro daquele quarto. O problema de fato é quando saio para fora dele... Esses dias nem ao menos lembrei de dar ração aos cães, pois é meu pai que os alimenta logo cedo. Pensando bem, tomar o café da manhã com minha mãe costuma ser algo muito agradável! Coisa que se eu morasse sozinho talvez não fosse tão frequente. Está bom como está... Não sei o que me incomoda mais, estar solitário neste quarto fechado, ou ser um péssimo colega de quarto ou até mesmo ser minha única companhia em um apê fechado. 
Opa! Ela voltou.
Sinceramente não sei o que me trava, em que ponto é o limite disso tudo, creio que ela também não sabe. 
Seus olhos falam, mas eu não consigo entender. Talvez eu deva confiar mais neles. Ou deva falar mais a ela.
Nos abraçamos e nos entendemos no silêncio. 
Ela apenas se levantou, pegou um táxi e foi embora.
E eu? Fiquei ali no silêncio do meu quarto. Descobri que além de ser um péssimo morador, percebi que continuo sempre solitário preenchido com o vazio do peito.

sábado, 20 de junho de 2015

Pitanga no Quintal

Quase todos os finais de semana, eu ia visitar os meus avós (que são meus padrinhos), depois de muito conversar ia correndo brincar naquele lindo quintal com a minha irmã! Era um quintal recheado de árvores frutíferas, balanço, escorregador e duas cachorras. Vivia brincando entre as pequenas flores, pegando pequenas pedrinhas para brincar de amarelinha, colhendo limões do jardim para fazer limonada com a avó. Meu avô sempre me levava até aquele quintal e me ensinava sempre a diferença entre os tipos de plantas. Os diferentes formatos de folhas, suas texturas e cheiros. Acho que nunca comentei isso com ele, mas o momento que mais adorava era quando ele me levava para o quintal mostrar as suas plantinhas. Todo dia aprendia algo novo com ele. 
De todo aquele quintal, a cada dia que passa, o que mais sinto falta é da pitangueira. Tinham duas. Uma de cada lado... Mas tinha a minha pitangueira favorita.
Saudades daquela linda pitangueira alta, cheia de galhos e troncos para subir. Pelo menos é assim que lembro dela, eu era pequena, e para mim ela era grande o suficiente para me acolher em seu tronco. 
Aquele cheiro de pitanga fresca e colorida é o que mais sinto falta.
O meu amor por ela era um conjunto. O cheiro, o gosto, a divisão e distância certa entre cada galho. A posição em que ela cresceu e a disposição dela para me encaixar entre seu tronco, era perfeita! Eu cabia de forma perfeita dentro dela, como se fosse um eterno abraço, uma conexão única entre mim e aquela pitangueira. Para a sua felicidade, nasceu do lado de um pé de amora.
Em certas épocas do ano, corria para o fundo do quintal de meus avós maternos e ficava lá... em cima da pitangueira! Passava horas e horas me deliciando entre pitangas e amoras, as folhas das duas árvores se misturavam, e as frutinhas conversavam de uma árvore para outra... 
Passava a tarde inteira manchando minhas mãos e roupas claras apenas saboreando aquelas pequenas frutinhas. Algumas frutinhas eram laranjas, outras vermelhas e roxas. Era uma mistura de cores lindas e gostosas. Umas mais azedas outras mais doces, era sempre uma surpresa a cada frutinha... 
Quando se aproximava do café da tarde, ia correndo pedir um pote vazio de margarina para a minha avó, depois voltava correndo para dentro de casa com o pote lotado de pequenas frutinhas para dividir com todos.
Aquela pitangueira foi a melhor parte da minha infância, conversava com os passarinhos, cheirava as folhas das árvores ao redor, pegava nos insetos, via o caule verde, os cascos quebradiços, jogava aviões de papel lá de cima, levava corda para brincar de escalada, e muitas vezes levava minhas bonecas para conhecerem a vista de cima. Subir na árvore era o meu melhor esporte. 
Mas a minha vontade mesmo, era ter montado uma casa naquela pequena árvore. Sempre pensava: "Acho que aqui só cabe uma cama, mas se pudesse ficaria aqui com esta cama mesmo assim". 
Se pudesse, na verdade, moraria naquela pitangueira. Minhas melhores ideias apareciam por lá, seu cheiro e suas frutinhas me inspiravam, me davam ideias, escrevia histórias, inventava canções, desenhava entre os galhos. 

Mas infelizmente um dia tive que me despedir daquela linda pitangueira. Meus avós haviam se mudado, e a casa de madeira infelizmente fora demolida. Juntaram então os dois terrenos vizinhos, demoliram todas as lindas árvores frutíferas e construíram um grande prédio em seu lugar. Acho que veio daí o meu desinteresse por prédios e muito concreto. O verde sumiu daquele lindo lugar.
Logo depois que entrei na faculdade, pedi para que um amigo estacionasse o carro na frente daquele local. Senti falta de tudo aquilo, da minha infância, da minha avó, da pitangueira... 
Certas coisas aprendemos com a vida.E foi ali que aprendi que assim como as frutas, as pessoas amadurecem e seguem suas vidas.

  E que assim como todas as árvores frutíferas, precisamos dividir nossos frutos e muitas vezes ceder nossos galhos para que as pessoas possam crescer conosco e aproveitar o lado doce e trazer mais vida a nossos dias.

E depois de anos, resolvi criar o Pitanga no Quintal, um evento para que as pessoas possam desfrutar o sentimento parecido daquilo que vivi na infância. Um quintal animado, com música, amor, união entre amigos e família, com muita coisa boa para comer e muitas ideias para somar.
Quee o amor, amigos e natureza estejam sempre presentes em nossas vidas! 

O que compensa desse esforço, não é o lucro. E sim uma realização pessoal... dividir amor e alegria através da arte. 

domingo, 7 de junho de 2015

Me encontrei nessas linhas


Após a turbulência, voe!

Ao retornar bruscamente ao passado, refiz todos os caminhos, segui entre as mesmas pessoas, as mesmas conexões e tentativas. 
Senti o mesmo aroma três vezes, fui nos lugares mais marcantes. Minha juventude se despedia de mim naquele momento. Não precisou de muito para mostrar a mim mesma que havia amadurecido o suficiente para seguir em frente, não precisaria mais das pedras passadas e pesadas. Encarei de frente todos eles, tirei o rancor, mágoas e fechei feridas. Perdoei todos mentalmente. E eles me aceitaram com paz de espírito indiretamente... A energia voltou a fluir bem, voltou a ficar branca.
A vida é feita de pequenos trampolins que nos levam ao topo, e cabe a nos decidir qual deles pular e recomeçar uma nova subida.
Confesso que já pulei em vários e me machuquei em muitos. Mas não me arrependo de ter tentado subir em diferentes corações, pois todos me fizeram ver que a trajetória daquela escalada e o estímulo era e sempre será melhor do que o pulo. 
Estou finalmente em paz comigo mesma, com o meu coração e espírito. Mudei o rumo, o cabelo, o quarto, os objetivos de vida. Joguei fora o que não me pertencia mais, e lembranças que não me completavam também.
Estou renovada para recomeçar, para colocar toda a energia instalada no peito e recomeçar uma nova página. Uma página feita de amor próprio, muito suor, trabalho e estudo.
Uma nova "eu" que propõe desenhar todos os desafios possíveis na mente, e botá-los em prática com os olhos vendados. O limite não tem olhos, a determinação dita os passos por si mesma. 
Não tenho medo do escuro, o meu amor próprio e os meus sonhos sempre deixaram pisos firmes para se pisar. 
Meu caminho está trilhado para futuros e bons desafios que não me nego a tentar, ninguém tem o direito de me parar. Não é agora que estou diante deles que vou voltar atrás.
Pela primeira vez, meu coração está em paz. Aceitei a mudança e o amadurecimento. Finalmente a turbulência dolorosa de minha vida havia acabado, pois toda transição é repentina, dolorida e difícil. É fundamental darmos importância para os que ficam conosco nos piores momentos, pois estes sim valem a pena mantermos quando o sol aparecer. De resto, enterre com flores afetuosas na esperança de que suas vidas possam ser contaminadas de ternura em algum parte de suas vidas e tenham compaixão com futuros.
Me despedi com um beijo caloroso de minha adolescência, e abracei com afeto minha juventude com ar de trabalho árduo. Estou pronta para as mudanças... a turbulência passou, já estou pronta para voar! 

terça-feira, 26 de maio de 2015

    Eu tenho segredos para guardar. Segredos que me firmam como mulher, menina, adolescente e como eu mesma. Este espírito do momento que vaga sem idade em busca de lembranças inexistentes, que correm pelo ciclo da vida em busca de uma verdade e de um por quê.
    Segredos de diversos sabores, texturas, sons e palavras perdidas. Vivo guardando meus olhares para não expô-los em olhares errados e bocas perdidas.
    Sou um diário secreto, que os poucos que leem o segredo, voam com algumas páginas e jogam ao vento... como se os segredos não fossem para durar.
       E não duram. Segredos são para serem vividos, sentidos e tocados. 
Segredos são fonte de inspiração para poetas, amantes, dramaturgos, pintores, compositores, músicos. De resto, segredos não servem para viver. 
    De que me resta um belo segredo se não me inspira para amar ou doer? 

    Segredos deveriam ser feitos para durar, assim como promessas.
Promessas se quebram tão fáceis que soltam os dedos em buscas de verdades sobre o próprio ego. O ego que se desmancha assim que o segredo acaba na própria promessa. 
A vida tem fim no seu próprio ciclo infinito.

sábado, 23 de maio de 2015

Confete desbotado

O confete ficou grudado no asfalto,
quando a chuva lavou a sua cor.
Ficou caído ao lado do embriagado,
que há tempos estava em prantos,
a procura de seu amor.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

vinte e nove de maio de dois mil e quinze

Se o sangue que agora me mancha, é a prova de que estive na luta, lutemos! Escorre lágrimas de insegurança em meio ao poder descontrolado, onde o dinheiro eleva a inteligência, onde nossos heróis viram as vítimas, um mundo onde os cretinos se passam por bons.
Sejamos aqueles que pisam descalços no meio fio, para provar que a coragem é grande quando se há orgulho por ser quem é, de levar o fardo de bom educador, de ter passado diante dos olhos de centenas de crianças, te lhes ter dito as melhores palavras dentro dos melhores conselhos.
Deite-se na grama e admire as bombas caírem sobre meus olhos enquanto peço socorro pela perna machucada, estou deitada com a minha dignidade, implorando pelo meu direito de ter pão em casa.
Deite-se comigo e escute o barulho dos inocentes, dos trabalhadores enchendo os canteiros e cantos, escolas e mentes ingênuas. Abra seu coração, governador. Olhe o apelo de nossos mestres, suas carreiras, anos de estudos, de educação. O senhor tem filhos, e deles educação precisarão! São meus heróis meu senhor, que lhes ensinarão!  
Observe como o discurso é elaborado, frases bem colocadas, abraços apertados, lágrimas sinceras, ansiedade quase doentia, de corações compostos de esperança e amor. 
O silêncio que cerca em suas próprias casas, são pedidos de socorro entrelinhas. A espera de uma decisão interminável, uma dor que não sei completar apenas com abraços. Filhos abraçam seus pais, pais abraçam seus filhos. A educação está de luto. E meus heróis não merecem isso. Respeito é bom, e os professores merecem! 

Fica minha homenagem a todos os grandes professores que tive em vida, principalmente minha mãe que continua na luta pelos seus direitos! 

Estamos juntos! Do luto à luta! 

domingo, 3 de maio de 2015

2.1

Sinto o gosto das palavras me atingirem de forma singular. Entro no próprio compasso dos meus passos em direção ao desconhecido. Sou guerreira de minhas próprias histórias, silenciei meus medos para progredir minhas metas, e assim, construí meu destino junto com minha paciência educada.
Joguei fora os pertences que a mim já foram utilizados, deixei o meu passado no formato de uma caixa rasgada de tanto uso, sou vencedora das minhas próprias decisões e aqui estou.
De repente, 21. Finalmente sou aquela que sonhava tanto, cheguei no pico da minha meta, minhas mãos suavam ao perguntar do meu futuro, hoje já tranquila, respondo sorrindo dos meus planos feitos. Sou uma mulher de sonhos já cultivados.
Já rabisquei muitas folhas com várias ideias, rabisquei versos como roteiro de viagens, construí materiais nunca usados. Hoje faço parte dos que se arriscam o impossível. Confesso, que estou muito bem onde estou. Minha prática está mais rápida do que o esperado, realizei-me antecipadamente.
Estou com fome de planos e objetivos. Meu corpo já implora por mapas nunca vistos, quero que o desconhecido me invada dia após dia, e destrua minha mente com novas ideias. 
Sou feita de sonhos, e é desta coragem de reproduzir metas, que tiro a vontade de continuar sempre. Guardo nostalgicamente as melhores lembranças, e as levo como aprendizado de um tempo feliz... o tempo de crescimento e amadurecimento.
Com toda a certeza, asseguro-me que sou uma nova pessoa, mais determinada, mais observadora, com amigos escolhidos a dedo, empreendedora e com a arte aguçada na ponta dos dedos e língua. 
Sou filha da arte, e ela assim me conduzirá para sempre. Sei disso e sinto a cada dia no suor de meu trabalho que dela viverei, seja para colocar o pão na mesa como para preencher meu coração ansioso. 
Hoje faço vinte e um anos. E destes anos, levei a arte em meu peito, seja em forma de quadros, versos, música, dança, decorando textos nos cantos da vida para encenar nos palcos de madeira ou produzindo arte dos outros Curitiba a fora.
Sou filha da arte e dela para sempre serei. 
Sou muitas, sou fragmentada, dentro de cada fragmento um complexo misterioso, que guarda em poucas linhas o segredo de cada coragem artística. Sou feita de medos, boas ideias, grandes escolhas, rodeada de várias pessoas porém poucos ouvidos, observo mais do que realmente falo. 
Hoje sou feita de olhos. Ontem era feita de boca. Amanhã serei apenas ouvidos. E espero que para o resto de minha vida, minhas mãos estejam sempre prontas para trabalhar com a mesma vontade de hoje. 

Sou filha da arte, e ela me habita pois a arte me move. 
Que este novo ano que venha em minha vida, seja um passo para meu mais novo começo. Que a arte me dê o pão necessário para produzir cada vez mais arte. 

Escrevo para mim mesma, para sempre registrar o que tenho de melhor em mim. E o que eu desejo do fundo do meu coração, é felicidade em meus objetivos. Que este caminho que eu esteja seguindo, seja o certo. E se não for, que eu aprenda a sempre errar para aprender cada vez mais com passos tortos. Porque no fundo, sei que quanto mais eu arrisco, mais um passo de conhecimento e oportunidade de recomeço dou a mim mesma.
Que venham 365 dias de pureza em meu coração e em meus sonhos futuros. 
Lembre-se sempre disso, da Fernanda que sempre foi, que sempre quis ser e aquela que és. Feliz Aniversário para mim mesma.
Um beijo.
Da Fernanda com 20 anos, que lhe preparou a melhor base para que tenha um futuro cada vez melhor. Aproveite.

E deixe que a arte de mova, sempre!