terça-feira, 3 de novembro de 2015

batom borrado

Desanda no salto com o batom borrado.
Veste no peito a vergonha que te falta na cara.
O vestido que balanceia entre tuas pernas destrói o teu ponto másculo aos olhares tendenciosos. 
Chove mulher. Chove por entre teu rosto que te entope de acidez.
Chove enquanto há tempo para chover. Fique nua, embriagada, sambe entre os prantos dos teus dias mais escuros. Cante até a rouquidão te matar de desgosto. Zombe do travesseiro encharcado de mágoas póstumas.
Desanda que teu pranto me mata de vontade. Quero gozar-te de energia para que poupe-me do silêncio no coito.
Segura a onda de menina e revela logo esse teu ser incansável, que sobe paredes e destrói muros de barbantes.
Seja só tua, mulher! 
Rebole entre tuas paredes, desande entre teu peito, encha tua camisola preta de penugens de sonhos brancos.
Você cresce, mulher! Enquanto a vida não para.

Veste este casaco que agora está frio. Sei que o vento gelado assombra teu peito vazio.
Bota logo esse batom e deita aqui comigo. 
Segura minha barba pela última vez e aproveita da minha cama e faz o teu abrigo.   
Sou o teu presente indefinido. 

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