terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

E assim, vou.

    Botei meu laço de fita na cabeça, e fui. E assim me esbarrei com o excesso de veneno esparramado pelo chão ardido de arrependimento, encolhendo-se nos restos de jornais nas poças presentes, como cicatrizes abertas pelo vento, em frente a minha casa.
    Observava a água parada ao chão, com certa melancolia de mulher madura, prestes a cuspir de indiferença sobre seu desespero. Pobre esperava aos prantos secos e arrependidos em minha janela. - Pois não? - Atendi o seu chamado como se fosse uma súplica do seu próprio Deus, que não teve forças o suficiente para consolá-lo. - Ela não me deixou!
    Claro que não o deixou, você precisa de alguém, não a mim, mas de qualquer outro alguém que possa ocupar o vazio que em anos ninguém pôde ocupar na minha ausência. Ou talvez precise de mim? Indiferente estou, percebeste? Estou usando agora o meu mais novo laço de fita.
    Não desmereço meu passado, assim como não valorizo-o em meu presente. Estou de laço de fita hoje na cabeça, e não é você em que vou me lamentar! Estou a procura do meu pôr-do-sol na praça, onde você nunca me deixou sentar - Com licença - cautelosamente repeti. Ora essa, ele mal me deixava passar.
    Segurei forte em sua mão e lhe disse com toda a calma do mundo, que estava de laço de fita, e que com ele eu não iria me encontrar.
    Não entendeu, suplicou um motivo, um suspiro nostálgico. Não pude negar. Sou sensível, não adianta não tentar consolar. Mas não sou fraca, aí está a diferença que o mundo tende a me julgar. Não carrego lamentos ao bar, e muito menos mentiras ao altar, contei.
    Contei junto com o meu laço de fita, que estava com a roupa mais bela e passada de bolinhas, cheirando rosas e jasmim, não usava batom de senhora, mas tinha a proeza de senhorita. Mas quase senhora. Chorei. 
    Chorei de alegria, claro, assim como o meu lindo laço de fita, que brilhava ao virar-me ao sol, dizia aos pássaros o quão bela passava pelas pedras da calçada a música do rádio da vizinha, suspirei.
    Andei com o pobre rastejando sobre meus pés tentando entender motivos claros de sonhos repetitivos, mal sabes que daqueles tive quase que infinitos.
    Não, não sonhava mais com ele, não usando o meu mais novo laço de fita, eu era outra, estava pronta para desfilar no altar da vida, e não voltar a aquela maldita rotina.
    Ele estava ajunto da proeza do passado. Pobre. Estava amando sem amar, e que mal tinha? A mim, nenhum. Mas ele se recusava da fuga escrita, queria nos olhos olhar a tal da expectativa. Relembrar o que um dia pode achar que era amar.
    Escandalizou versos prontos e cotidianos, para que um diálogo pudesse formar, banalizava-se no vocabulário chulo, e as mentiras resolveu largar.
    Era um ninguém perdido na dúvida, no arrependimento e no silêncio... Continuei a andar.
    Não achava que estava tão forte a ponto de lhe negar, certo que me espantei com a presença inesperada, mas a indiferença se pôs a reinar. O motivo pela qual deixei continuar, era a minha curiosidade, sim, aquela mesma que corria em seu sangue sobre o quão bem estava sem sua companhia. - Será que vives bem sem minha alegria? - Alegria? Da qual você fala? A mesma que me despencou no banheiro e na cozinha? Das palavras grosseiras e sintonias vazias? Pois nunca me verás deste jeito, rapaz. Desculpe-me mas estou apressada e já não olhos mais para trás! 
    Estava arrumada, de salto e bolsa vazia, não tinha nada a lhe entregar a não ser o meu currículo em dia - Serve este? - perguntei. Perguntei na mais inocente das perguntas, da mais inocente das vinganças, da mais inocente passagem de tempo.
    Não significava mais nada a mim. Meu futuro estava formado, sem ele.
    Via-o apenas como um passado revoltado, morto e angustiado, que achas que tem poder de mudar meu consciente, com um suspiro de defunto.
Mas o veneno não entrou mais em minha pele, e não retornará. Quando se cura, cura intensamente, e não tende resquícios ficar.
    Assim estou, assim fiquei e fui. Ao encontro do meu amor pelo altar, que admirou o meu lindo laço de fita, aquela era o sinal que a minha vida estava a mudar. Enquanto o pobre ficava lá fora a se lamentar e aos poucos definhando na rua com o próprio arrependimento do passado mal gozado.
    Pus o laço de fita, logo antes quando fez o veneno na frente de minha porta esparramar, talvez um dia eu consiga olhar-lhe os olhos, no fundo dos olhos, e apenas pela sua alma rezar.
E esse dia? Ahh, com certeza ele há de chegar!

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