quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Jovens mortais

    O inesperado me engoliu diretamente pelo peito, parecendo que havia engolido também cacos de vidros atingindo meu próprio estômago. Sofria no silêncio da tristeza mórbida. 
    Uma alma nova que subia aos céus, livrava o caminho das dores e lágrimas. Suas lágrimas. Que agora secaram junto ao seu corpo novato.
    Me sentia responsável pela sua história deixada ao mundo, e seu sofrimento lacrado no peito. Mas feliz ao saber que sua vontade de viver era maior do que qualquer outra coisa do mundo. 
    Eu sentia sede de esperança, estava confusa com as imagens que via em minha frente. Solucei tanto a chegar ao ponto de me virar contra a parede e me acalmar sozinha. Me senti ridícula por demorar a me acalmar, por ter explodido daquela forma entre soluços e lágrimas, entre olhos extremamente fechados tentando conter o mínimo das lágrimas caídas. Eu sofria como há muito tempo não sofria. Uma dor diferente a ser explicada. 
    Lutei comigo mesma para me acalmar forçadamente, para não estragar o silêncio da dor alheia. Respeitei a dor.
    Sou frágil, tão frágil como a sutileza de uma pétala de rosa que despenca do pé da roseira. 
    Sinto com a dor do mundo, abraço como se fosse o meu próprio ser. Sofro mais pelos outros do que por mim mesma. Sofria por ver os outros chorando, e por ao mesmo tempo quase sentir de perto o vazio em que agora ficava em seus corações.
    A noite fechei os olhos e ouvia sua voz. Ouvia risadas de uma jovem que se fora para a outra extremidade da vida, de forma injusta e breve.
Sua imagem junto ao caixão, me calou por dois dias. Ainda estou calada, mas ninguém precisa perceber. Escrevo para conter minha vontade de gritar ao mundo. Meu apoio maior sempre será na escrita. Queria um abraço, um abraço tão forte que pudesse fantasiar o vazio que encontrei em mim mesma. 
    A realidade agora bate na minha porta, sai da transe e lembrei-me que somos mortais, tão mortais que não existe idade para ir. Não apenas adoecemos velhos, muito menos após construir uma grande história neste mundo. Nos vamos sem avisar. Temos o nosso próprio tempo. E foi essa realidade bruta que quase me adoeceu mentalmente naquele momento. Estou assustada, estou conturbada. 
    Não tinha a devida intimidade com sua história, mas convivi da mesma rotina durante três anos a sua presença. Me senti responsável por observar durante esses três anos a sua presença, era o mínimo que poderia fazer... lhe desejar uma boa partida, com todo o respeito possível pelo seu esforço. 
    Estou sofrendo pelo aperto de pela primeira vez presenciar alguém novo, ir embora. Mal sei como sentir ou lidar com essa situação. Não faz parte do ciclo da vida ver os pais chorarem pela perda de um filho. A injustiça é composta por quebras nas regras da vida. E essa era uma delas.
    Seus braços estavam em volta de um pequeno ursinho rosa, imortalizando a inocência pertencente a sua vida dentro daquele caixão. Nunca me esquecerei daquela cena. Muito menos sei como consegui detalhar essa cena aqui, em palavras sem soluçar novamente. Pois ultimamente não consigo detalhar sem antes respirar o mais profundo possível.
    Percebi que sou mais frágil que pensei. Percebi que sinto mais pelos outros do que por mim. Percebi que amo as pessoas e suas histórias de vida. Amo a originalidade de cada alma. Mas percebi acima de tudo, que gosto de sentir e perceber. Amo poder viver.

"Sempre em frente, não temos tempo a perder."

Nenhum tempo é tempo demais...
Somos tão jovens...
tão jovens!

Jovens mortais.

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