quinta-feira, 21 de agosto de 2014

O silêncio que secou a alma.

Quem me dera se todo o amor que eu contemplasse em sua presença, fosse na mesma proporção em que o meu fosse aquecido pelos seus braços.
Lembro-me da forma com que carregava-me até o seu peito, para que pudéssemos entender a cura da saudade.
Foi um tempo intenso em que os dias se passaram como se estivessem em uma ventania. Nossos olhos nunca mais se conectaram, sua voz se calou e eu nunca mais te vi.
Quatro ou cinco dias. Foi o tempo suficiente para nunca mais conseguir pronunciar seu nome de forma segura perto de rostos alheios. Digo apenas na frente do espelho para poder curar-me desta insegurança que me trouxe. Sinto-me uma clandestina presa ao seu nome. Não me reconheço perante as sílabas. Não me apeguei a curiosidade de saber qual o motivo de sua procura, apenas determinei um ponto final na qual você com certeza não me daria em determinado tempo previsto.
Nunca saberemos se foi a melhor opção, e qual seria a outra opção, mas o nosso distanciamento me isolou de qualquer tipo de rotina programada, me silenciei entre as paredes de meu quarto durante dois meses. Nada mais via a não ser as suas lembranças escorrendo entre meus cabelos que você tanto acariciava entre os lençóis.
Não sei mais quem sou na sua presença, mas pelo menos agora adquiri uma certa identidade independente. Na última vez que nos vimos, você andava cambaleando, seus olhos mal conseguiam ficar abertos, vermelhos como fogo, e sua boca já não mais dizia com a minha. Comemos nossa janta em um silêncio absurdo, e confesso que foi perceptível a tentativa de buscar algum assunto para botar na mesa, para que a comida fosse digerida de modo mais agradável e saudável. Pois lembro-me a forma como engoli a seco toda aquela comida. 
Você preferiu um prato feito, e eu um fast food barato. Lembro-me disso. Sua indiferença só quebrou ao oferecer-me o seu sorvete depois na sobremesa. Mas antes disso, nos alimentamos no pior dos piores silêncios já presenciados... o da indiferença. Apesar de que até nossa andança no carro não fora diferente. Pois o fato de eu ter pagado o estacionamento, me fez ver a dimensão de sua estranheza e indiferença.
Não queria saber de sua vida, e você muito menos da minha. "Saudades" dizia forçosamente para que o silêncio se rompesse no carro.
Mas nos resolvemos poucas horas depois, ou pelo menos, fingimos nos entender por ali mesmo, entre carícias e abraços, beijos sutis e química arrumada. 
Certa noite, sonhei que seu prédio estava pegando fogo, você tinha se jogado da janela para salvar sua vizinha que aparentava ter no mínimo 40 anos a mais do que você. No mesmo sonho, cuidei de seus ferimentos, orgulhosa por você ter salvo a vida de alguém.
Alguém. Você salvou alguém. Confesso que é engraçado descrever isso por palavras, pois você mesmo disse que nunca conseguiu salvar alguém, muito menos salvar-se. O próprio vizinho lhe salvou da morte anos atrás.
Adoeci alguns dias pelo meu próprio choro que engolia constantemente em sua ausência, aprendi a lidar com meus maiores defeitos: a ansiedade e a emoção excessiva.
Parei de almejar que os dias passassem rápidos e busquei soluções, tal qual minhas lágrimas que se alojaram em algum canto do meu corpo, longe de meu coração. Essa solução foi inesperada, e mal pude opinar sobre, simplesmente aconteceu. Não digo que secaram por completo, pois de vez em quando tendem a cair e me recepcionar em vida. Porém, nada comparado a como eu era antes de te ter em minha vida.

Você secou as minhas lágrimas da pior forma possível. Você não as secou externamente como muitos casais costumam fazer, você as secou internamente. 

E a solidão é o meu pior castigo.

Um comentário:

  1. A solidão é o único caminho de compreender-se, de encontrar a porta em nós que nos fará seguir.

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